Entrevista - Goldfield




1- Quando nasceu o seu amor pela leitura?

Tenho contato com livros desde muito pequeno, através de obras infantis e histórias em quadrinhos. Lia muita coisa da Disney, por exemplo, e tinha uma enorme coleção de gibis do “Zé Carioca”. O interesse por obras literárias mais complexas veio no ginásio. Na quinta série, fui introduzido a livros do Monteiro Lobato e de mitologia grega. Na sexta série, passei a ler contos. Nessa mesma época, tive acesso a livros pulp escritos nos anos 70 e 80, aqueles de bolso com histórias de espionagem e guerra com um clima de filme hollywoodiano. Foram as primeiras obras mais longas que comecei a devorar, pelo tema parecido com os filmes e games que gostava. Depois parti para os romances propriamente ditos. Os livros de Júlio Verne, que conheci na sétima série, foram um ponto de virada. Depois veio o Machado de Assis. Desde então não abandonei mais a leitura, e consumo de tudo um pouco.

2- Qual (ais) seu (s) gênero (s) preferido (s)?

Ficção científica, fantasia, ficção histórica e ficção especulativa. Quanto a estilo de texto, prefiro contos a romances, mas gosto dos dois. Talvez contos me atraiam mais pela narrativa rápida e de impacto mais súbito.

3- Quando seu interesse pelos livros lhe deu vontade de criar sua própria história?

Foi na sexta série, aos doze anos de idade (em 2001). Eu já criava histórias na minha cabeça há tempos, que tomavam forma de roteiros de filme ou jogos de videogame (linguagens com que eu era mais familiarizado), e nessa época percebi que minha carga de leitura poderia me ajudar a começar a botar tudo no papel pela escrita.

4- Quando começou a escrever, teve total apoio da sua família (pai, mãe, esposa, namorada, companheira, etc.)?


Sempre tive apoio dos meus pais, família, amigos e professores. Lembro que no ginásio eu passava textos em disquetes para meus colegas de sala lerem e opinarem. Na sétima série, a professora de redação fez com que as turmas encenassem duas peças de teatro de minha autoria, algo que me marcou muito. Desde que conheci minha atual namorada (a Carol Silva), tive muito apoio da parte dela também, e ela sempre é a primeira a ler o que eu escrevo. Nunca deixei de ser estimulado por aqueles ao meu redor, e sou muito agradecido por isso.

5- A descoberta do seu dom para a escrita, foi logo exposta à família ou você esperou um pouco para dar a "novidade"?

Eles sempre souberam desde o início, e inclusive meu pai deu o empurrão final que eu precisava para começar a escrever aos doze anos. Eu sempre contava a ele as histórias que criava na minha cabeça, e ele sugeriu que eu as escrevesse.

6- Qual foi o seu primeiro livro escrito? Foi publicado na internet ou impresso?

No início eu escrevia contos ou historietas de 40 páginas no máximo. Na oitava série, aos catorze anos, houve um concurso em Casa Branca (minha cidade natal), na Semana Ganymedes José (célebre escritor local), para escolher um novo autor para publicação. Com apoio de professores e da família, compilei um livro de contos chamado “À Margem da Idade” e me inscrevi. Infelizmente não ganhei, mas no ano seguinte (2004) publiquei o livro por meus próprios recursos numa gráfica local, com tiragem de 100 exemplares. Hoje eu particularmente detesto esse livro (meus textos eram muito ingênuos e imaturos, hehe), mas foi um pontapé importante para minha carreira de escritor. Como curiosidade, os contos desse livro estão hoje todos postados em meus acervos na Internet, da mesma forma como foram publicados.

7- Como faz quando tem um bloqueio e não consegue escrever por um tempo (horas, dias ou semanas)?

Tento me dedicar aos meus hobbies, como ler, assistir a filmes ou jogar games, o que geralmente dissolve meu bloqueio com o tempo. Viajar, ver lugares diferentes ou ter conversas interessantes também costuma me ajudar nisso. Porém nunca sei ao certo quando um bloqueio vai desaparecer por completo. Às vezes a inspiração para voltar a escrever volta de súbito, no ônibus, dando aula ou até me deitando para dormir. É um processo um tanto irregular, mas nunca entrei num bloqueio que durasse muito tempo (embora tenha, sim, me desesperado com isso algumas vezes).

8- Qual foi a sensação quando terminou o seu primeiro livro?

Sempre que termino de escrever uma história, a sensação é de gratificação e entusiasmo. É como se um pequeno mundo ao qual concebi vida se tornasse realidade, podendo agora ser compartilhado com outras pessoas.

9- Atualmente, você deixaria que fizessem um filme baseado no seu livro? Você deixaria que mudassem alguma coisa ou exigiria que o filme fosse fiel ao livro?

Filmes de livros eram melhores décadas atrás. “O Poderoso Chefão”, “Laranja Mecânica” ou “O Silêncio dos Inocentes” são exemplos de adaptações excelentes, nas quais quando é preciso mudar algo no roteiro em relação à obra original, sempre é para melhorá-la ao público. Dos anos 1990 para cá, no entanto, a lógica de produzir filmes rápido e em grande escala para um público que tem sua inteligência subestimada pelos estúdios tem estragado as adaptações de livros, que muitas vezes só compartilham o nome com a obra original (embora haja exceções, como “O Senhor dos Anéis”). Se um dia algo meu for adaptado, vou querer participar do processo criativo do início ao fim, tanto por prezar o respeito ao público (tanto o que conhece, quanto aquele que não conhece a obra) quanto por gostar muito de cinema – e sempre ter desejado fazer parte da elaboração de um filme. Quanto às mudanças na história, com certeza tentarei exercer controle sobre o roteiro (ou até mesmo ser um dos roteiristas) para que a mensagem da obra não seja distorcida ao ir para o cinema. Mas algumas mudanças, se forem para bem, são necessárias e bem-vindas.

10- Quem foi a pessoa que mais te apoiou?

Tenho várias pessoas que me apoiaram muito ao longo do tempo. Não consigo escolher uma só. Mas meus pais, minha namorada, meus ex-professores, antigos colegas de faculdade e, hoje em dia, boa parte dos meus alunos, com certeza são quem mais me deram e continuam dando forças para escrever.

11- Quando um jovem diz que não gosta de ler, qual o seu pensamento, pois você de certo modo, vive da venda de livros e se não leem, não compram.

Eu evito enxergar isso por uma questão de lucro ou mercadológica. Se o jovem não gosta de ler, o problema é mais grave: as portas do conhecimento estarão fechadas para ele por boa parte da vida. Os adolescentes precisam entender que ler não é apenas um recurso útil para saber das obras que cairão no vestibular ou saber interpretar textos de questões. O hábito de ler gera engrandecimento e amplitude de saber, sendo algo que toda pessoa deveria desenvolver para melhorar sua própria qualidade de vida. Quem lê sabe se expressar melhor, posicionar-se frente a qualquer tipo de assunto, tem mais empatia (por conhecer outras vidas e pessoas, através de personagens ou biografias), poder de dedução, conhecimentos gerais... Enfim, creio que a última coisa que penso quando sei que um jovem não lê é que terei um leitor a menos da minha obra. Penso na verdade é que mais uma pessoa estará afunilando sua vida.

12- Que dica você dá para jovens escritores, que pretendem seguir carreira na literatura?

Primeiro, leiam muito. Só lendo um escritor consegue aprimorar sua técnica e, pela prática, criar o próprio estilo. Não existe escritor que não gosta de ler. Segundo, tenham paciência. Conseguir publicar é algo longo e árduo, e há mais portas fechadas do que abertas no mercado editorial. Não dá para viver de escrita logo no começo: faça uma universidade e consiga um emprego que goste, e que de preferência também possa andar unido ao seu ofício de escritor. No meu caso, ser professor tem aberto muitas portas. Trabalhar no setor editorial ou especializar-se numa área de estudo que envolva o foco de seus livros também ajudam muito. Comecem alçando pouco, o maior virá com o tempo. Uma boa saída é publicar contos em antologias de temas que se encaixem com seu estilo, para ir conseguindo contatos na área. Participem de desafios, como o Nanowrimo (se não o conhecem, deem uma pesquisada, vale a pena!) para superar seus limites. E tentem aproveitar todas as oportunidades que surgirem.

13- Qual a sua formação profissional? Isso interferiu nos seus livros (na história do livro em si)?

Sou formado em História e atualmente trabalho como professor. Sim, há uma grande influência disso em todo meu trabalho como escritor. História sempre foi minha matéria favorita desde o ensino fundamental, e boa parte de meus escritos são situados em outras épocas ou retratam acontecimentos do passado. Quando comecei a dar aulas, passei a querer fazer os jovens aprenderem História com minhas narrativas, e direcionei várias obras para isso. “O Legado de Avalon” tem essa exata intenção: despertar o interesse dos alunos por História através do enredo, levando-os a estudos e outras leituras mais aprofundadas. Ou seja, aprender através de uma atividade agradável, que divirta e instrua ao mesmo tempo.

14- Se pudesse escolher entre ler e escrever durante um dia inteiro, qual seria a sua escolha?

Escrever, com certeza. Não há nada mais realizador do que um dia em que minha escrita rende além de minhas expectativas. Criar é tudo de bom!

15- Deixe um recado para os jovens leitores.

Leiam sempre, nunca abandonem esse hábito. Tentem diversificar suas leituras e amadurecê-las com o tempo. Uma existência regada à leitura é com certeza uma existência bem vivida. E caso gostem de criar suas próprias histórias, não se intimidem em escrevê-las e mostrá-las às pessoas. Vocês também estarão contribuindo para torná-las leitoras.

1 comment

Lady Salieri 3 de setembro de 2015 às 08:31

Muito bom, adorei!
Tenho acompanhado o Goldfield aqui e ali, e tem sido bem legal, ainda mais vendo a questão de ele, como eu, ser professor ^^

Vamo que vamo =D

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